CUIDADO! Este blog é só pra OMES ja crescidos! Tirando apenas estas excepções:

o ZÉ TOLAS, que é baixinho,
o OME DO MONTE, que ainda não chegou lá,
o QUIM PESCAS, que já nasceu grande,
o TONE BOSTAS, que em vez de lá chegar deu uma cabeçada,
e o LA BOUSSE, que nos mandou a todos à la merde.







20/04/2008

AS OMAVENTURAS

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As pessoas nem queriam acreditar.

Ah, o meu amigo quer saber em quê. Acha-se crédulo? Ora pois bem. Imagine que era consigo. Vamos lá testar o seu cepticismo.

Estava, pacatamente, na rua, no seu dia normal, a fazer compras ou a discutir qual-quer coisa, como qualquer ser humano que se tenha habituado a viver em sociedade faz, e eis que passa por si uma CARRIPANA, ou melhor, uma carrinha de caixa aberta, como os comerciantes usam, ou aquelas pessoas do interior que gostam de espaço para transportar mercadoria.

Até aí tudo bem.

QUEM IA A CONDUZIR? Imagine você um gajo rude do campo. Mas há muitos gajos rudes no campo, diz você. Um gajo rude, daqueles que batem na mãe! Este não é qualquer gajo rude do campo. Um OME da lavoura, alto, forte e com bigode. E estava apressado. ESTAVA VISIVELMENTE APRESSADO. Mas porque seria?

Provavelmente estará a pensar que qualquer um tem pressa. E, aí, estou forçado a concordar consigo. Sim, é verdade. Qualquer um tem os seus motivos para acelerar no meio de uma cidade cheia de gente, levar à frente tudo, subir passeios, buzinar aos peões para sair do caminho e ignorar sinais, e por aí adiante.

A QUE VELOCIDADE? Vamos arriscar uns 80 quilómetros por hora. É possível. É uma contra-ordenação muito grave nas localidades, mas pronto. Se os carros dão, é possível. Até provável, de vez em quando.

Mas prossigamos. AO LADO DO CONDUTOR, mais precisamente à sua direita, você via um gajo com um fato de funcionário de limpeza, denominado, pela sua eti-queta, “João Vítor”. ATÉ AÍ, TUDO BEM. AGORA, o facto de ele estar com os pés amarrados é que não dá com nada. JÁ PARA NÃO FALAR DA CAÇADEIRA DE DUPLO CANO QUE TRAZIA NAS MÃOS, com a qual ia a tentar fazer mira atra-vés da janela. MAS A QUEM?

Naturalmente perguntar-se-á a quem. É normal.

É CAPAZ DE SER AOS CHINESES, que vinham em perseguição, em três carros negros e potentes, sem olhar a nada, a acelerar pelas ruas da pobre cidade CAPITAL.

ATÉ AQUI, bem, o leitor é capaz de compreender. Dificilmente, compreenderá. MAS É POSSÍVEL.

Isto até é plausível de se passar. EM CASOS MUITO EXTREMOS, é. Já se há-de ter visto em alguns filmes. Uma pessoa é capaz de pensar nisto de vez em quando. MAS O PROBLEMA É QUE ISTO NÃO FICA POR AQUI.

AINDA FALTA UM GAJO.

Imagine que ele ia em cima do capot da viatura. DE PÉS E MÃOS ATADOS, CHEIO DE TERRA, A VER SE NÃO ERA CUSPIDO FORA DE BORDO, COM O QUEIXO A DOER POR CAUSA DA PANCADA QUE DEU NO VIDRO.

Aqui, meu amigo leitor, ui, aqui sim, o meu amigo levará as mãos à cabeça.


O QUIM PESCAS contorcia-se em cada curva, pensando sempre que era a última que ia fazer antes de ser enviado directamente para o chão; O OME DO MONTE procurava atinar com a estrada mas o QUIM estava a bloquear grande parte do seu campo de visão; O ZÉ TOLAS, por várias vezes, tentava disparar para os chinos mas não conseguia entender-se com a caçadeira do OME DO MONTE.

“NÃO, AO CONTRÁRIO, TOLAS, AO CONTRÁRIO!”, berrava o OME DO MONTE, “RAIOS TE PARTAM, TOLAS, PARECES UMA MULHER!”

“O QUE RAIO QUERES QUE EU TE FAÇA?”, berrou o ZÉ TOLAS, já furioso.

“DISPÁRA DIREITO!”

“COMO É? ASSIM?”, e o ZÉ TOLAS disparou, só que com o impacto e o movi-mento do veículo orientou a arma para outro lado e explodiu com todos os balões que tinha um vendedor de balões, para grande espanto deste. E lá foram dois cartu-chos.

“TOLAS, CONDUZ!”, ordenou o OME DO MONTE, a fumegar, “E DÁ CÁ A ARMA!”

Ainda mesmo sem saber como, o ZÉ TOLAS deu-lhe a caçadeira e ocupou-se, todo torto, do volante do OME DO MONTE, que acelerava a fundo. Por muito que qui-sesse ver a estrada só conseguia deparar-se com os olhos esbugalhados de pânico do QUIM PESCAS, que estava assim desde que se colara ao vidro do carro. O OME DO MONTE sacou de dois cartuchos novos, meteu-os nos canos, ASSOMOU À JANELA, E BANG, DISPAROU UMA VEZ, BANG, DISPAROU DUAS, e encheu de furos o carro que os perseguia, e com a vontade de apanhá-los bem apa-nhados afundou o pé no acelerador.

“NÃO ACELERES MAIS!”, desesperou o outro.

ZÉ TOLAS não pôde impedir de entrar num parque de estacionamento de um hipermercado, e ia direito a uma lomba enorme já com o carro a derrapar um bocado de lado. Não havia maneira de desviar a tempo….

“CUIDADO QUIM!”, gritou o ZÉ, E O CARRO SALTOU E O QUIM SALTOU COM ELE, E LÁ FOI O QUIM, pelos ares, E CAÍU DE PÉ NUM CARRINHO DE COMPRAS DE UMA VELHA, que barafustou, e, com a força a que ia, o carrito lá começou a descer uma ladeira enorme, descontrolado, com o pobre do QUIM no seu interior a gritar que nem um perdido.

NISTO, O OME DO MONTE E O ZÉ IAM NOUTRA DIRECÇÃO.

“OLHA O QUIM!”, disse o ZÉ TOLAS, “VAMOS PERDÊ-LO!”

“É MELHOR PERDÊ-LO! DEPOIS VIMOS BUSCÁ-LO! AGORA É MUITO PERIGOSO!”

Os carros dos chinos aceleravam atrás deles, sem hesitar em puxar pelos carros. Nem repararam no desvio do QUIM.


Uma rapariga, muito, muitíssimo nervosa, caiu no erro de ir beber um café. É o seu pecado. Já nos exames da faculdade se comporta assim. Sabe a matéria toda na ponta da língua. Mas vai, obediente ao vício, beber café na mesma. Cafés duplos. Depois, fica toda nervosa, treme por tudo quanto é lado e isso só lhe dificulta a concentração.

Estava precisamente no dia do seu exame prático de condução. Já esperara perto de cinco minutos junto ao carro no qual a iam examinar. E o Sr. Engenheiro que nunca mais chega… e ela já está toda tremeliques! Já começou a fase em que põe a causa de está realmente preparada para o exame ou não.

Respirou fundo. Entrou no carro. Meteu o cinto, e tentou ambientar-se ao veículo onde tivera trinta aulas de uma cinquenta minutos cada durante os últimos meses. Passou as mãos pelo tablier, pela manete de mudanças, em ponto morto, e pelo guia-dor, e pelo travão de mão. Pela cara, por fim. Respirou fundo de novo. E o maldito do homem que nunca mais chega!

Bem, se ela estivesse mais relaxada, certamente tinha reparado no que os espelhos retrovisores mostravam.

Atrás do seu veículo, um gajo amarrado e cheio de terra em cima dos sacos de com-pras do interior de um carrinho de compras veio a descer a rua. O carrinho bateu na borda de um passeio, capotou, e o gajo, depois de um curto voo, caiu redondo no chão. Depois, para espanto das pessoas que passavam, e com a ajuda de algumas, desembaraçou-se finalmente das cordas, e olhou em volta, à procura de um carro.

Ela fechara os olhos, a tentar aliviar o stress. MAS DE REPENTE, SALTOU, por-que ABRIRAM A PORTA. ENTROU O QUIM PESCAS NO CARRO. Fechou a porta à patrão e meteu o cinto de segurança de seguida.

“Ah, uh, olá, Sr. Engenheiro, boa tarde…”, começou ela, já toda descontrolada. Mas o QUIM tinha resposta pronta para ela.

“TOCA A ACELERAR! PREGO A FUNDO! ALA QUE SE FAZ TARDE!”

(...)

E não percam, brevemente, a nona OMAVENTURA!

18/04/2008

DIA INTERNACIONAL DO OME

É por estas razões que no dia 20 de Abril se irá comemorar o 1º DIA INTERNACIONAL DO OME.
NUNCA LI TANTA VERDADE JUNTA EM TÃO POUCAS LINHAS.......
Porque nós os homens também merecemos...
Ser homem é:
- Sentir a dor física de uma bolada nos tomates;
- A tortura de ter de usar fato e gravata no Verão ;
- O suplício de fazer a barba todos os dias;
- O desespero das cuecas apertadas;
- A loucura que é fingir indiferença diante de uma mulher sem soutien;
- A loucura de resistir olhar para umas belas pernas com uma mini-saia;
- Ir à praia com a sua mulher e resistir olhar para aquele mulherão que está deitada ao lado
- Viver sob o permanente risco de ter de andar à porrada com outro homem;
- Vigiar o grelhador no churrasco ao fim de semana, enquanto todos se divertem;
- Ter sempre de resolver os problemas do carro;
-Ter dinheiro sempre que ela precisa;
- Ter de reparar na roupa nova dela;
- Ter de reparar que ela mudou de perfume;
- Ter de reparar que ela mudou a tinta do cabelo de loiro 713 para 731 loiro/bege;
- Ter de reparar que ela cortou o cabelo, mesmo que seja só 1cm;
- Ter de 'jamais' reparar que ela está com um pouco de celulite;
- Ter de 'jamais' dizer que ela engordou, mesmo que seja a pura verdade;
- Desviar os olhos do decote da secretária, que se faz distraída e deixa a blusa desabotoada até ao umbigo ;
- Ter a obrigação de ser um atleta sexual, mas só quando a ela lhe apetece;
- Ter a suspeita de que ela, com todos aqueles suspiros e gemidos, só está a tentar incentivar-nos;
- Ouvir um NÃO, virar para o lado conformado e dormir, apesar da vontade de partir o quarto todo e fazer um escândalo ;
- Ter de ouvi-la dizer que está sem roupa, quando o problema é onde colocar novos armários para guardar mais roupa;
-Ter de suportar ciumes doentios quando nao há razäo pra tal;
- Ter de almoçar aos domingos na casa dos sogros, discutir política com aquele velho chato, tratar bem os sobrinhos, controlar-se para não olhar para o decote da irmã dela e não arrear um arraial de porrada ao irmão dela, sacana do caraças que só vem sempre pedir dinheiro emprestado.
Depois Elas ainda acham que é fácil, só porque NÃO TEMOS O PERÍODO!
Falta uma coisa muito importante que acontecia e ainda acontece a quem usa calças (e tem tomates)
- Entalar a gaita na porcaria do fecho. São duas dores...... É o entalanço e depois abrir o fecho outra vez......
Estão a ver. Ter um filho só custa no parto!?!?! NAO... O HOMEM TAMBEM SOFRE...

14/04/2008

AS OMAVENTURAS

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ZÉ TOLAS e QUIM PESCAS CAÍRAM NO TERRAÇO DAQUELE IMENSO ARRANHA-CÉUS, cuspidos pelo escritório elevatório do Ping Li Pong. Ainda amarrados e bem amarrados por nós que não eram cegos, no meio dos cacos do vidro fosco que atravessaram a eito, deram um jeito para se conseguir levantar, o que se provou difícil. Habituaram os olhos à claridade e tentaram equilibrar-se em cima dos pés. Não havia protecções nas bordas da construção. Via-se a CAPITAL toda, mais os outros edifícios da Ping Digitália a toda a volta daquele complexo enorme, que até tinha uns jardins catitas e umas árvores numa espécie de parque adjacente, a cerca de cem metros de profundidade.

“ZÉ, ESTÁS BEM?”

“TOU! E TU?”

“VAI-SE ANDANDO!”, bradou o QUIM, visivelmente excitado por toda aquela maluqueira.

Bem, facto é, tinham escapado ao Ping Li Pong. Mas ainda não estavam a salvo. QUIM rodou sobre si, rodando também o ZÉ, como é evidente.

“ESTÁS A OUVIR O MESMO QUE EU?”, disse QUIM.

“TOU!”

O barulho das hélices de um helicóptero a trabalhar era inconfundível. Era tão alto que forçava-os a berrar para conseguir ouvir-se um ao outro.

“Ó ZÉ, ACHO QUE ESTÁ PARA AQUI O HELICÓPTERO EM QUE ME TROUXERAM! VÊS ALGUMA COISA DESSE LADO?”

“NÃO!”

“EU VEJO MAL AO LONGE! VOU RODAR! VÊ TU DAQUI!”

Rodaram em si outra vez. ZÉ TOLAS percebeu que o terraço ainda se estendia por uns bons metros quadrados. O próprio topo do edifício tinha vários andares, e eles estavam no mais baixo de entre eles. O helicóptero estaria, provavelmente, no de cima.

“Temos de subir uns pavimentos.”

“HÃ?”

“TEMOS DE SUBIR!”

“VAMOS EMBORA!”, disse o QUIM, a tentar saltar em direcção ao isqueiro em forma de pistola que caíra para ali, e pegou-lhe com vontade, “VENHAM ELES!”

Mancaram o que puderam até ao limite daquele bloco, e foram saltando pelas esca-das, uma a uma, magoando-se um, magoando-se o outro, depois tropeçaram e caíram rebolando até a um outro piso. Finalmente, contornaram uma esquina e outra e viram o helicóptero a começar o seu funcionamento na área com um enorme “H” no pavimento.

“QUIM, O QUE É QUE ESTÁS A PENSAR FAZER?”, disse ZÉ TOLAS, mal se sentiu a ser arrastado na direcção do meio aéreo.

“A LIMPAR O ESTERCO QUE FIZ”, justificou o outro.

“COM MAIS ESTERCO AINDA?”

Só estava o piloto no helicóptero. Provavelmente, e porque estava a retomar a mar-cha, e a iniciar o motor, ia-se embora, uma vez trazido o QUIM lá dos altos mares onde o pescaram. ZÉ não percebia o que é que o pescador, amarrado e indefeso, estava a pensar fazer. Mas tudo se tornou muito claro quando pincharam até à máquina e subiram a bordo. O QUIM, com os pulsos presos e juntos, ergueu a pisto-la para o piloto chinês com uma cara bastante ameaçadora.

“STOP! PAROU!”

O piloto pode não ter ouvido o que disse o outro, mas percebeu perfeitamente a mensagem. Afastou logo as mãos dos comandos e ergueu-as acima da cabeça. Mas ZÉ TOLAS não percebia.

“QUERES FICAR AQUI?”

“HÃ?”, pensou o QUIM, “… NÃO!”

Voltou a virar-se para o piloto.

“TOCA A ANDAR! UPA! UPA!”

Soou a sirene de alarme no edifício dos chineses. O piloto levantou voo, e, se não fosse o ZÉ a agarrar-se com os dez dedos que tinha nas mãos, iam os dois OMES cuspidos de volta ao cimento da área “H”. A muito custo, meteram-se no banco do co-piloto, os dois atafulhados um no outro, o que só atrapalhou o condutor, que começou barafustar e a gritar muito. Esta sua reacção é compreensível, visto que as botas do QUIM carregaram inconscientemente numa série de comandos e nivelado-res.

“TEM CUIDADO!”, disse o ZÉ TOLAS, “AINDA NOS MATAS!”

“O QUÊ?”

O helicóptero, já bastante alto, começou a dar umas voltas indevidas, e a perder alti-tude rapidamente, o que só contribuiu para mais confusão no seu cockpit. E vai uma bota para a cara do chinês, e a tola do ZÉ para cima dos interruptores todos, mais um braço do QUIM nos rins do ZÉ, e, tudo somado, uma confusão, e o helicóptero caiu a pique.

GRITARAM TODOS QUE NEM UNS PERDIDOS, O ESTÔMAGO QUASE A SAIR-LHES PELA BOCA, e o desgraçado do PILOTO, desesperado, meteu as mãos por entre os dois OMES, num gesto desesperado para regular o helicóptero, pôs uma mão no volante controlador e outra no lugar onde tinha guardado o canivete que usava de vez em quando para cortar as unhas. Pegado no canivete, ia a enfiar a lâmina num dos OMES quando o veículo guinou para um lado, e depois para o outro, e o QUIM pegou no canivete, e cortou a corda que o ligava ao ZÉ a algum custo, e nisto tudo o helicóptero já estava quase a colidir contra o solo. Um murro no chinês, outro que foi recambiado para os controlos sem querer, e a hélice endireitou-se no último momento. Os ferros inferiores da máquina tocaram violentamente no chão, BATERAM TODOS NO TECTO e CAÍRAM OUTRA VEZ.

Adeus jardins tão bem arranjadinhos. O helicóptero, com toda a velocidade a que vinha, entortou e tombou; voou o QUIM para fora do veículo, e o ZÉ, já solto do outro, embora com as mãos e pés atados, ia tentar fazê-lo, mas arriscava-se a ser fei-to carne picada pela lâmina que ainda rodopiava no seu eixo, escavando na relva e mandando tufos de terra para todo o lado.

QUIM caiu ao chão e ainda cambaleou ao levantar-se. Olhou para a sua frente. A LÂMINA ESTAVA A ABRIR UMA FOSSA NO CHÃO DO JARDIM, ATIRANDO TERRA PARA TODOS OS LADOS, E VINDO NA SUA DIRECÇÃO, PRONTA PARA LHE CORTAR A CABEÇA.

QUIM saltou imediatamente para o chão e começou a rebolar de lado dali para fora, tão rápido como o seu amor à vida o exigia. Sentia a deslocação do ar a sugá-lo, mas NÃO CEDIA!

Por outro lado, o ZÉ já saltou na direcção oposta, e começou a correr, assim que se levantou, em direcção das árvores. Já conseguia ver, nas entradas dos edifícios, dezenas de chineses a agrupar-se e a carregar armas. TIROS!

OS CHINOS COMEÇARAM A DISPARAR! ZÉ refugiou-se atrás de uma árvore imediatamente, aos pinchos porque é lixado andar amarrado, MAS TINHA O CANIVETE DO PILOTO PARA CORTAR O RAIO DAS CORDAS. QUIM, ainda a comer terra, lama e penas de uma pomba sem sorte, fazia os possíveis por se man-ter afastado da lâmina letal. Ouvia, de vez em quando, uns tiros a fazerem ricochete, mas não fazia caso. Entre disparos e ser feito carne para salsicha, venha o Diabo e escolha.

ZÉ sentia os chinos a aproximarem-se demasiado. Era o fim. Agora não havia hipó-tese. MAS, DE REPENTE, APARECEU UMA CARRINHA DE CAIXA ABERTA por entre os montes do jardim, QUEM ERA? UM CHINO?

ERA O OME DO MONTE!

“SALTA, ZÉ!”

ZÉ nem pensou duas vezes: saltou pela janela para o lugar da frente da carripana do OME, mesmo em andamento, ficando com metade das pernas de fora a mexer em seco. TINHA O CANIVETE. CORTOU AS CORDAS DAS MÃOS.

“O QUIM?”, inquiriu o OME DO MONTE. Mas logo o viu. TRAVOU A FUNDO. O QUIM ESTAVA ENCURRALADO. SE O HELICÓPTERO GIRASSE mais um bocado sobre si, ELE FICAVA À MERCÊ DOS TIROS.

“APANHA-O!”, gritou o ZÉ.

“E COMO É QUE EU O APANHO?”, berrou o outro. NESSE MOMENTO, UMA EXPLOSÃO DESCOMUNAL abanou toda a gente. O OME DO MONTE até pen-sou que fosse o da sua carripana, mas não era, graças a Deus. O motor do helicóptero EXPLODIU, e uma das lâminas enterrou-se a centímetros da cabeça do QUIM e a outra RASOU a carripana do OME DO MONTE, indo de encontro aos chineses que disparavam tiros, apanhando alguns de surpresa. O OME DO MONTE ACELE-ROU, O QUIM PESCAS SALTOU para cima dele, E DEU COM O QUEIXO NO VIDRO DA FRENTE DO CARRO DO OME DO MONTE, que fez meio pião qua-se com as rodas de lado, invertendo assim a marcha e acelerando dali para fora, sempre com o equilíbrio necessário para o QUIM (que não tinha as mãos soltas, logo, não se podia segurar) não sair cuspido de cima do vidro da frente do carro do OME DO MONTE.

ZÉ SOLTOU AS MÃOS. NO ESPELHO RETROVISOR, VIAM-SE CHINOS A ENTRAR EM CARROS. O OME DO MONTE METIA A TERCEIRA E ACELERAVA.

“PEGA NA MINHA CAÇADEIRA, QUE ESTÁ NO PORTA-LUVAS!”, disse o OME DO MONTE PARA O ZÉ TOLAS, “E CHOVA CHUMBO PARA CIMA DELES!”

(...)

Não percam, brevemente, a próxima OMAVENTURA!

11/03/2008

AS OMAVENTURAS

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UM BARULHO DE SUCÇÃO interrompeu o silêncio. O ar, infestado de gás soporífero, movimenta-se. Aquele escritório saiu da névoa em que adormecera. Várias luzes se ligaram. As do tecto piscaram uma, duas vezes, e inundaram o resto daquele imenso escritório quadrado com claridade. O computador regressou do estado de hibernação, e o monitor acordou num ambiente de trabalho de idioma chinês. Subiram os estores que cobriam a janela, e abriu-se esta, tudo automaticamente e com ligeiros zumbidos de maquinaria dissimulada. Ao centro da divisão, mesmo no chão, estavam dois indivíduos, de pés e mãos atados, presos um ao outro. Acordou o primeiro. Debateu-se com as mãos, debateu-se com os pés, mas os nós estavam, para já, suficientemente bem atados.

“Oi, que é isto? Onde… como… Ah… chinos do inferno…”

Reparou no indivíduo que tinha ao seu lado.

“ZÉ, ZÉ, acorda!”

ZÉ TOLAS estava relutante em despertar. Mas com os abanões do outro, abriu os olhos e respirou fundo.

“Onde estamos?”

“Onde estamos, perguntas tu?”, repetiu o QUIM PESCAS, “Estamos no mesmo sítio onde estávamos antes de desmaiarmos.”

TOLAS olhou com mais pormenor à sua volta. Piscou os olhos até estes se focarem à luz. O gás já quase não se via, consequência do ar condicionado que circulava. O ambiente estava mais respirável. Ainda assim tossiu.

“Tens razão… o que é que se passou?”

QUIM fez outro esforço para soltar as mãos dos nós que as prendiam, torcendo o pulso de várias formas a ver se desfazia algum nó. Com algum esforço, e mais algum tempo, talvez fosse possível aligeirar os nós que tinha nos tornozelos… e soltar os pés para conseguir andar.

“Sei lá o que se passou!”, disse ele, “Só me lembro de entrarmos no escritório que nos disseram ser o do Ping Li… coiso, e de a porta se fechar. E de não a conseguirmos abrir. E de começarmos a sentir um odor intenso.”

“Adormeceram-nos com gás”, concluiu TOLAS, “E tudo por tua culpa!”

“MINHA?”, bradou o QUIM.

“SIM, IMBECIL!”, ripostou o outro, “SE NÃO FOSSE POR TUA CAUSA, JÁ NOS TÍNHAMOS IDO EMBORA! Mas quiseste-te meter na boca do lobo! Pronto, toma lá! Estamos na boca do lobo! Estás contente? Gostas da boca do lobo?

“Eu queria era falar com o lobo…”

“É, sim, olha, ele quer falar com o lobo. E querias dizer-lhe o quê? Querias cravar-lhe o número de série do cabo de um candeeiro na nuca, era isso que querias? Pensavas que o lobo não estava cercado de outros lobos com tecnologia de ponta?”

“Não sabia que haviam lobos chineses. Mas pronto, tá bem, ZÉ, eu já percebi, já percebi, agora cala-te.”

“Tipo, o OME DO MONTE vem a caminho… mas, porque perdemos os sentidos, perdi também a noção do tempo, e não sei se ele já havia de ter chegado ou não—”

Mas, neste preciso momento, a porta de entrada abriu-se. Junto a esta, e a um mostrador, na parede, com os misteriosos dígitos a vermelho “06”, um outro sujeito entrou em cena, para espanto mudo dos dois OMES. Ou melhor, do TOLAS, uma vez que o QUIM ainda não conhecia, pelo menos de vista, o homem que o prendeu.

Ping… Li… Pong.

“Boas tardes, estimados hóspedes”, disse ele, com uma calma fenomenal, “creio que já fomos apresentados, funcionário TOLAS. É um prazer conhecê-lo, senhor pescador PESCAS… o meu nome é Ping Li Pong e estou aqui para vos matar, se não for muito incómodo, é claro.”

“Não, de forma alguma”, disse TOLAS, tentando aparentar uma calma semelhante à do seu patrão. Ou melhor, ex-patrão… mas o temperamento de Ping Li Pong não costumava ser assim. Era um sujeito muito eléctrico, muito temperamental e furioso. Não soava nada dele esta atitude pacifista. Devia estar mesmo, mas mesmo seguro de si.

“Vocês foram muito ingénuos se alguma vez julgaram poder fugir daqui. Nem você, senhor TOLAS, por ter ouvido uma conversa confidencial, nem você, senhor PESCAS, por ter, mesmo sem querer, metido o seu salgado nariz nos meus assuntos secretos. Estão os dois com uma execução marcada para hoje, dentro de alguns minutos, por isso eu sugiro que se divirtam, para aproveitar o tempo que vos resta.”

“OI, ERA EU TAR LIVRE QUE TE FAZIA DIVERTIR, CHINO DE…”

“Está CALADO!”, gritou ZÉ, e depois virou-se para Pong, “Qual é o seu objectivo? O que é que pretende, afinal de contas? O que é que nós dois, dois simples e pouco instruídos indivíduos, estamos a prejudicar?”

“Vocês?”, riu-se Pong, “Vocês não estão a prejudicar nada. A partir do momento em que eu vos tratar da saúde não prejudicam nada.”

Tocou o telefone na sua secretária. Pong atendeu.

“Sim, sim, Al Abalah, está tudo bem. Eu já me encarrego deles pessoalmente. É só uma pequenina conversa antes disso.”

ZÉ TOLAS sorriu para si mesmo. É tão típico, o vilão monologar antes de eliminar os inimigos. Isso era geralmente um sinal de que os bons se iam safar. Mas como?

“Meus venerados amigos”, começou Ping Li, “o mundo em que tiveram a infelicidade de se meter é tão mais vasto quanto o consigam avistar. Aos vossos olhos, a China quer invadir o mundo economicamente. Através da supremacia do mercado, não é? Mas se a China o quisesse já o tinha feito, digo-vos eu. Por que razão é que andamos a plantar lojas chinesas ao nosso custo em todo o lado? Qual é o nosso objectivo, pensais vós? O que é que nós andávamos a fazer nos mares em que o QUIM PESCAS foi pescado? Qual é o verdadeiro significado por detrás dos Jogos Olímpicos de Pequim? O que é que a Ping Digitália veio realmente fazer a Portugal?”

QUIM contorceu-se, com raiva. E aproveitou para desatar mais um pouco o nó dos tornozelos.

“A China tem planos que o mundo desconhece. A China tem objectivos que estão para além da vossa compreensão ocidental. Não vou gastar o meu tempo a explicar-vos o quê, como é óbvio… vou antes acabar convosco. Gosto tanto de preparar estes discursos com os condenados. Um dia poderei dizê-los ao mundo, e sem os censurar. Aos chineses, aos portugueses que cairão sob o nosso império, aos americanos, aos ingleses, e a todo o resto do mundo. Meus amigos, o resto do discurso não é para hoje, e não é para vocês tampouco.”

Ping Li Pong dirigiu-se para a secretária, onde, avistou ZÉ TOLAS, estava uma PISTOLA.

“OLHA A ARMA!”, avisou ZÉ, e QUIM aproveitou, deu um esticão para se levantar, levando ZÉ TOLAS atrás. Os dois, ainda amarrados e sobre o equilíbrio um do outro, tentaram derrubar Pong, mas este esquivou-se e sentou-se no cadeirão da sua secretária, ignorando a arma de fogo que tinha sobre a secretária.

E, para surpresa dos dois OMES, que, desequilibrados, caíram ao chão, apertou um cinto de segurança, que fez clique.

QUIM, de nariz no chão, pôde ver o pé direito do chinês a carregar num botão dissimulado no solo, debaixo da secretária. Um botão de entre dois. Logo após a ele ter feito isto, toda a divisão pareceu tremer, e a gravidade a pesar cada vez mais. Um barulho ensurdecedor de maquinaria encheu-lhes os ouvidos. Ping Li Pong ria-se enquanto QUIM PESCAS e ZÉ TOLAS eram esmagados contra o chão por aquela força invisível, cada vez mais forte.

Junto à porta de entrada estava um mostrador, que indicava uma série de números em ascensão, “15”, depois “16”, “17”, e por aí adiante. Foi quando ZÉ TOLAS os avistou que percebeu, finalmente, que todo aquele escritório era um elevador gigante, criado, certamente, para fugir a visitas incómodas, podendo-se deslocar para qualquer andar e através do simples clique de um botão. Neste momento estavam a subir a uma velocidade vertiginosa que os colava ao chão.

Ping Li Pong pressionou o botão outra vez e o movimento cessou de repente, puxando uma data de objectos para cima, num voo curto, incluindo o TOLAS e PESCAS, que foram projectados até um metro de altura e se estatelaram outra vez no chão. Tudo voltou ao silêncio.

“Isto é um elevador!”, sussurrou ZÉ para o QUIM.

“Eu percebi. Quantos andares tem este prédio?”, interrogou QUIM, em surdina, enquanto Ping Li Pong tirava o cinto de segurança e se erguia da cadeira.

“Trinta e nove, porquê?”

Mas no momento em que ZÉ TOLAS disse isto percebeu perfeitamente o que é que QUIM estava a pensar fazer. Numa fracção de segundo, o pescador ergueu-se, mesmo de pés e mãos atados, e mesmo com o ZÉ preso às suas costas. Projectou-se para cima da secretária e levou tudo o que ainda lá estava à frente, exceptuando o computador e o telefone, que estavam fixos devido à natureza da sala.

Deu uma cabeçada ao Ping Li Pong e uma joelhada num dos botões que controlavam o elevador. Acertou no que faz descer. Nesse momento, tudo começou a levitar, incluindo Pong, os objectos começaram a subir em pleno ar, excepto os dois OMES que estavam debaixo da secretária, que estava presa também, e ZÉ TOLAS, mesmo com os pulsos amarrados, conseguiu agarrar a arma de Pong com os dedos.

O mostrador estava quase a chegar ao “01” quando QUIM carregou no botão gémeo, o que faz subir. E, mais uma vez, foram colados ao chão, agora com mais violência ainda. Arrastaram-se até ao meio da sala, onde já tinham estado, e QUIM, vendo a arma na mão de TOLAS, berrou, no meio daquele chinfrim:

“DISPÁRA, TOLAS! DISPÁRA!”

O mostrador já ia pelos “18”. E TOLAS estava colado ao chão, devido à força que o empurrava para baixo.

“DISPÁRA!”

ZÉ apontou o melhor que pôde a arma para Ping Li Pong, que se contorcia lá ao fundo. Semicerrou os olhos, mesmo quando a divisão estava a chegar ao trigésimo andar, e premiu o gatilho.

Da ponta da pistola saiu uma chama. O mostrador chegou aos “39”, a divisão toda parou violentamente com um estrondo, todos os objectos soltos foram projectados para o tecto e QUIM PESCAS, mais ZÉ TOLAS, amarrados, atravessaram o tecto para o infinito.

“É UM ISQUEIROOOOOOO…”

(…)

Não percam o próximo OMIPISÓDIO, dia 29 de Março!

26/02/2008

AS OMAVENTURAS

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QUIM ouviu passos. Sabia que ia ser agora, finalmente, de uma vez por todas, que lhe iam tratar da saúde. Mas ele não se ia entregar assim tão facilmente. Ia dar luta, não fosse ele o QUIM PESCAS, o gajo que, um dia, lá para os idos anos noventa, ameaçou o patrão do seu barco de pesca de o congelar juntamente com o peixe. O patrão nunca mais disse nada, e consta que emigrou.

QUIM já estava bastante mais acordado, mais desperto. Pegou logo numa das pernas da cama metálica daquele cubículo, que se entretivera a desmontar, e colocou-se atrás da porta. Os passos aproximaram-se. A porta abriu-se, e QUIM desferiu o golpe…

Apontara à cabeça, só que o indivíduo que entrou não era tão alto e corpulento como os chineses, e a perna da cama fez logo uma racha na porta. QUIM ainda ia tentar uma segunda investida, mas reparou que quem ali estava era o ZÉ TOLAS, ora que esta!

“Mas tu estás maluco?”, suprimiu o ZÉ, num murmúrio pleno de nervosismo, “Então um tipo vem-te libertar e tu, à primeira oportunidade, tentas matá-lo?”

“OI, desculpa, ZÉ! Desculpa, ZÉ! Obrigado, ZÉ!”, começou o QUIM, sem conseguir abafar a voz, “Eu é que pensava que os chinos me iam chinar, ZÉ! E assim eu chinava uns quantos antes de me chinarem a mim!”

“Está bem, está bem, desde que fales baixinho”, soprou o outro, “Tenho aqui um fato de trabalhador que consegui fanar ali a um balneário, veste-o. Assim sempre passamos um pouco mais despercebidos. Isto enquanto não soar o alarme…”

QUIM PESCAS descalçou as suas botas e começou a enfiar o fato do “Júlio Dinis, Funcionário de Limpeza”, por cima das roupas cheias de sal e tudo. Ficava mesmo à justa, ao contrário do que o ZÉ TOLAS vestia. Riu-se, do canto da boca.

“Oi, agora chamas-te João Vítor?”

Ouviu-se passos no corredor, e desta vez, não eram do ZÉ TOLAS. Este sobressaltou-se.

“Chiu! Cala-te! Anda!”

QUIM só teve tempo de pegar nas botas e de se precipitar descalço para os corredores. Ainda com o fato desabotoado, foi a rasto, puxado pelo ZÉ, por um prédio que nunca vira na vida. Quando se meteram no elevador, que ZÉ teve o cuidado de ver se tinha alguém antes de puxar o QUIM, este pasmou com a quantidade de botões referentes a andares que lá tinha.

“Eish! Quer dizer, estávamos no andar menos sete… e agora estamos a subir?”

“Anda lá, veste-te!”, aconselhou o ZÉ, enquanto esperavam no elevador, “E despacha-te… eu creio que estamos a ter sorte a mais… nem entendo como é que ainda não nos toparam.”

“Afinal o que é que se está a passar aqui?”

“Se queres que te diga, não sei bem. Mas eu depois explico-te. Entretanto posso-te dizer que os chineses não são flor que se cheire. Temos de ter muito cuidado. Quando chegarmos ao primeiro andar saímos pelas traseiras. Pode ser que consigamos sair por entre o lixo… eu trabalhei lá há uns anos, espero que funcione da mesma maneira…”

“Porque é que não saímos pela frente, simplesmente? Porque é que não nos vamos embora pela porta da frente?”

“Antes de mais, aperta as botas.”

QUIM abaixou-se, ao trabalho, e ZÉ prosseguiu.

“Esta empresa tem um alarme silencioso. Todos os gajos da segurança recebem esse sinal, assim como uma mensagem, a dizer como nós somos, de onde fugimos, etc., e na entrada, eu tenho a certeza absoluta que, se ainda não estão gajos preparados para nos apanhar, dentro de minutos estarão. E aí é que vamos desta para melhor.”

“Então porque é que me disfarcei?”

“Os gajos da limpeza não o sabem. E no departamento deles, que é no primeiro andar, temos uma hipótese.”

QUIM estava com uma cara de fúria.

“Porque é que eles nos querem apanhar? Qual é a panca deles? QUER DIZER, ANDA UM GAJO NA SUA VIDA, NO SEU DIA-A-DIA, E DE REPENTE APARECEM UNS CHINOS QUE LHE QUEREM CORTAR A GOELA?”

“CALA-TE!”, vociferou ZÉ TOLAS, e, quando reparou no seu tom de voz, conteve-se, “Cala-te, cala-te, cala-te, mas tu queres morrer aqui!?”

“OI, MAS ISTO NÃO SE FAZ, QUEM É O GAJO QUE MANDA AQUI?”, exaltou-se o QUIM, “QUEM É O TÓJÓ QUE NOS MANDOU MATAR? MAS EU VOU-LHE ÀS FUÇAS!”

ZÉ TOLAS carregou no botão STOP do elevador. Tinha de explicar umas coisas aqui ao QUIM antes de saírem. Era o que mais faltava, a besta do pescador que foi libertar deitar tudo a perder.

“Porque é que paraste o elevador?”, inquiriu logo QUIM, mas ZÉ ignorou-o propositadamente.

“Isto é tudo muito simples. Vou-te fazer três perguntas curtas. Tens medo de morrer?”

QUIM pensou.

“Não.”

“Tens família?”

QUIM pensou.

“Nem por isso.”

“Não tens receio algum?”

QUIM pensou.

“Não me parece.”

ZÉ levou a mão à cara.

“… Raios.”

QUIM carregou no STOP outra vez. O elevador logo se abriu. Desta vez foi o QUIM que puxou o ZÉ dali para fora. Este último ainda tentava chamar o primeiro à razão.

“Ouve lá”, ainda com uma réstia de esperança de o fazer pensar duas vezes, “tu não sabes com quem é que te estás a meter, por amor de Deus não vás à campeão para o meio dos carniceiros, eles vão-se divertir contigo e depois chinam-te…”

“JÁ VAMOS VER!”

ZÉ teve uma ideia. Puxou o QUIM para um recanto escuro onde não passava ninguém e persuadiu-o a ouvi-lo.

“OLHA, olha, QUIM, não preferes sair do prédio, ir comigo para o outro lado da rua, escondermo-nos, esperarmos que o OME DO MONTE apareça, e depois damos cabo do responsável?”

“AI O OME DO MONTE VEM?”

ZÉ engoliu em seco.

“…. Vem. Está a vir. Deve estar na auto-estrada.”

“ENTÃO BORA LÁ! Vamos abri-lo como a um coelho!”

“Mas é que nem tens hipótese nenhuma! Tu nem sabes onde é que ele está! Nem eu te vou dizer o nome dele!”

“AI É?”, disse QUIM, com um olhar bastante decidido, ao contrário do de ZÉ.

“… É.”

QUIM, com um respirar pelo nariz muito ruidoso, fez-lhe sinal para observar com atenção, ao que ZÉ percebeu que estavam perdidos, e que a única maneira de se safarem dali com vida se estava a esvair por entre os dedos.

Horror. QUIM aproximou-se de um segurança chinês, e tocou-lhe no ombro.

“Ó sôr guarda. Pode-me dizer quem é que manda nesta merda toda?”

O guarda olhou-o com surpresa.

“Ping Li Pong.”

“Muito bem, e onde posso encontrar esse Ping… Ping Pong?”

“Do segundo andar para cima, vire à direita, e procure a porta que parece um elevador. Carregue aí no botão e espere que ele o atenda.”

ZÉ TOLAS, escondido no seu canto, fazia os possíveis por não ter um ataque de nervos.

“Muito obrigado”, agradeceu o QUIM PESCAS.

(…)

E não percam a próxima OMAVENTURA, dia 11 de Março, que NÓS TAMBÉM NÃO!

12/02/2008

AS OMAVENTURAS

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AQUELE CÃO IRRITANTE, o PULGAS, veio a correr desde a lavoura da Adelina, e não fazia tenção de o largar – ladrava e saltava, sedento de atenção do OME do mundo com menos paciência para o aturar.

“VAI ROER OSSOS, PULGAS!”, berrou o OME DO MONTE, com aquele carinho habitual com que ele trata os animais, com o encanto digno de um domador de feras, dia após dia, “VAI CAVAR BURACOS PARA O QUINTAL DO VIZINHO! AGORA TOU OCUPADO!”

E, de facto, estava. Tinha um telefonema. Já para aí desde o Natal que o OME DO MONTE não recebia um telefonema em sua casa. É curioso: todas as outras casas do RESTO DO MUNDO costumam receber telefonemas com frequência, excepto a sua. Talvez por viver sozinho, talvez por não ter tantos familiares quanto isso – talvez, até, por ele se dizer um gajo calmo – calmo e também um pouco anti-social, visto que –

Tem uma espingarda na mala e uma pistola no porta-luvas, ninguém sabe bem para quê.

E não é para a caça, isso a população de Arreganha-a-nova o pode garantir. Ainda se diz um tipo “calmo”… de vez em quando vai jogar o seu real jogo de cartas com os outros ditos “calmos” da região, e não há sexta-feira à noite que não acabe numa “calma” cena de pancadaria.

Assim como nenhum jogo de futebol que dê sem ser na televisão por cabo é bom presságio para os cafés da terra de Arreganha. Os donos dos inúmeros estabelecimentos (dois e meio, visto que um deles é clandestino e, em teoria, “não existe”), ao que consta, ganharam a fama de usarem colete à prova de bala, e isto ninguém sabe porquê, uma vez que todos os indivíduos que se conhecem são “calmos”. Às vezes estão tão “calmos” que os colocam num caixão.

E o OME DO MONTE é, de entre os calmos, o mais calminho de todos. De grande envergadura, mãos grandes e cabedal de meter medo, de cabelo preto que não vê água desde as últimas chuvas – isto se chover – um BIGODE que deixa crescer desde que atingiu a maioridade (ou seja, desde que nasceu), e umas BOTARRAS que pisam todo e qualquer tipo de solo.

Onde é que ia ele? Ah, ia para casa, atender o telefonema do ZÉ TOLAS. Raios partam o ZÉ TOLAS, pensou. Aos anos que já não via aquele OME. É ele, o QUIM PESCAS e o LA BOUSSE. Este último emigrou, e já ninguém ouve falar dele desde o dia em que levou umas cinco unidades de tabaco (e tanta cerveja que dava para ser declarada um lago) para o estrangeiro. Está caro, em França, está caro, disse ele, encheu o depósito e pôs-se na alheta.

Mas aqui, nos seus tranquilos e “calmos” Trás-os-Montes, o OME DO MONTE governava-se bem, sem problemas, quer dizer, sem problemas ainda vivos. Agora mesmo já se encontrava quase a chegar a casa. Apareceu OUTRA VEZ o chato do Pulgas. O que é que ele queria?

“VAI LADRAR PARA A ESQUINA, PULGUENTO!”

A cozinheira estava já à espera dele na entrada.

“Ó senhor, apresse-se, que o senhor ZÉ TOLAS daqui a bocado fica sem moedas para manter a ligação!”

O OME DO MONTE é de poucas palavras, e sempre que pode, mostra o seu lado afável e compreensivo.

“TÁ BEM! ALGUÉM FALOU PARA TI?”

Foi à sua secretária (que, ao tempo que está parada, até ganhou bicho), levantou o auscultador, e colocou-o ao ouvido.

“TOU!”

Ouviu uns ruídos.

“TOU!?”

Mais ruídos. Começou a estranhar. Será que o aparelho estava avariado? A cozinheira estava a observá-lo com atenção. Ganhou coragem e disse, ainda a medo:

“Ah… o senhor tem… tem… tem o telefone ao contrário.”

O OME rodou o telefone.

“EU SABIA! E TU JÁ IAS PREPARAR O ALMOÇO!”

“Mas são nove e meia…”

“MAS JÁ!”

Ela ausentou-se a correr, já quase a chorar, ao que ele, satisfeito com a sua eficácia, se encostou na cadeira, como os OMES que usam secretárias costumam sentar-se, cheios de estilo. Até experimentou baixar um pouco a voz.

“Tou sim?”

O ZÉ TOLAS já estava farto de esperar. Já para aí há 20 minutos que metia moedas no telefone da sua empresa e a carteira não tinha muitas mais.

“TOU, OME!”, disse muito rápido, “OLHA, eu não te ligava se não fosse mesmo muito importante, mas isto é uma questão de vida ou de morte… e cheira muito, muito, muito mal.”

“OI, mas não sou eu!”

“Eu sei que não és tu. Tu cheiras mal, mas cheiras mal na Arreganha-a-nova. OLHA: na empresa em que eu trabalho, a Ping Digitália, estão a planear coisas muito perigosas. Os chineses estão a congeminar, e são muito suspeitos.”

“Mas tipo, EU NÃO QUERO SABER DOS CHINESES!”

O ZÉ TOLAS, que já esperava isso, rematou:

“Eles apanharam o QUIM PESCAS no alto-mar e prenderam-no!”

“OI? O QUÊ?”

“Sim, isso mesmo, e temo que lhe vão fazer mal. Não sei o que é que eles querem, nem o que estão a pensar fazer, mas vamos fazer o seguinte: tu mete-te já no carro e guia para a CIDADE CAPITAL. Acelera. A tua viagem ainda vai demorar umas horitas. Entretanto, eu vou tentar libertar o QUIM. Vou fazer os possíveis, mas não me parece que consiga passar a segurança toda. Não sei. Tenho que ver isso. O mais certo é lixar-me também. Tu vem direito à Ping Digitália. Quando chegares vai à recepção e pede para que o empregado ZÉ TOLAS venha ter contigo. Se eu não aparecer, chama a bófia e diz que há tráfego de órgãos nos níveis inferiores do complexo de prédios aqui da empresa… isso vai fazer a polícia revistar o local… e os chineses não vão conseguir explicar porque é que o QUIM PESCAS está enclausurado.”

“MAS ESPERA, porque é que não esperas que eu chegue e dizemos tudo à polícia?”

“Porque pode já ser tarde. Não quero nem imaginar o que podem fazer ao QUIM se esperarmos muito. A regra deles, pelo que vi, é: nada de testemunhas. Anda lá. Salta para o carro. Está a acabar-se o meu tempo. Até logo!”

A chamada caiu.

“ATÉ LOGO! BOA SORTE!”, bradou o OME DO MONTE, a ver se o outro ainda o podia ouvir, caso falasse um pouco mais alto. Bateu com o auscultador no telefone, ergueu-se, cheio de energia, e gritou, para a casa toda ouvir:

“Ó ALBERTINA, TRAZ-ME AS BALAS DA CAÇADEIRA!”

(…)

E não percam o próximo OMIPISÓDIO, dia 26 de Fevereiro, que nós também não!