CUIDADO! Este blog é só pra OMES ja crescidos! Tirando apenas estas excepções:

o ZÉ TOLAS, que é baixinho,
o OME DO MONTE, que ainda não chegou lá,
o QUIM PESCAS, que já nasceu grande,
o TONE BOSTAS, que em vez de lá chegar deu uma cabeçada,
e o LA BOUSSE, que nos mandou a todos à la merde.







12/02/2008

AS OMAVENTURAS

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AQUELE CÃO IRRITANTE, o PULGAS, veio a correr desde a lavoura da Adelina, e não fazia tenção de o largar – ladrava e saltava, sedento de atenção do OME do mundo com menos paciência para o aturar.

“VAI ROER OSSOS, PULGAS!”, berrou o OME DO MONTE, com aquele carinho habitual com que ele trata os animais, com o encanto digno de um domador de feras, dia após dia, “VAI CAVAR BURACOS PARA O QUINTAL DO VIZINHO! AGORA TOU OCUPADO!”

E, de facto, estava. Tinha um telefonema. Já para aí desde o Natal que o OME DO MONTE não recebia um telefonema em sua casa. É curioso: todas as outras casas do RESTO DO MUNDO costumam receber telefonemas com frequência, excepto a sua. Talvez por viver sozinho, talvez por não ter tantos familiares quanto isso – talvez, até, por ele se dizer um gajo calmo – calmo e também um pouco anti-social, visto que –

Tem uma espingarda na mala e uma pistola no porta-luvas, ninguém sabe bem para quê.

E não é para a caça, isso a população de Arreganha-a-nova o pode garantir. Ainda se diz um tipo “calmo”… de vez em quando vai jogar o seu real jogo de cartas com os outros ditos “calmos” da região, e não há sexta-feira à noite que não acabe numa “calma” cena de pancadaria.

Assim como nenhum jogo de futebol que dê sem ser na televisão por cabo é bom presságio para os cafés da terra de Arreganha. Os donos dos inúmeros estabelecimentos (dois e meio, visto que um deles é clandestino e, em teoria, “não existe”), ao que consta, ganharam a fama de usarem colete à prova de bala, e isto ninguém sabe porquê, uma vez que todos os indivíduos que se conhecem são “calmos”. Às vezes estão tão “calmos” que os colocam num caixão.

E o OME DO MONTE é, de entre os calmos, o mais calminho de todos. De grande envergadura, mãos grandes e cabedal de meter medo, de cabelo preto que não vê água desde as últimas chuvas – isto se chover – um BIGODE que deixa crescer desde que atingiu a maioridade (ou seja, desde que nasceu), e umas BOTARRAS que pisam todo e qualquer tipo de solo.

Onde é que ia ele? Ah, ia para casa, atender o telefonema do ZÉ TOLAS. Raios partam o ZÉ TOLAS, pensou. Aos anos que já não via aquele OME. É ele, o QUIM PESCAS e o LA BOUSSE. Este último emigrou, e já ninguém ouve falar dele desde o dia em que levou umas cinco unidades de tabaco (e tanta cerveja que dava para ser declarada um lago) para o estrangeiro. Está caro, em França, está caro, disse ele, encheu o depósito e pôs-se na alheta.

Mas aqui, nos seus tranquilos e “calmos” Trás-os-Montes, o OME DO MONTE governava-se bem, sem problemas, quer dizer, sem problemas ainda vivos. Agora mesmo já se encontrava quase a chegar a casa. Apareceu OUTRA VEZ o chato do Pulgas. O que é que ele queria?

“VAI LADRAR PARA A ESQUINA, PULGUENTO!”

A cozinheira estava já à espera dele na entrada.

“Ó senhor, apresse-se, que o senhor ZÉ TOLAS daqui a bocado fica sem moedas para manter a ligação!”

O OME DO MONTE é de poucas palavras, e sempre que pode, mostra o seu lado afável e compreensivo.

“TÁ BEM! ALGUÉM FALOU PARA TI?”

Foi à sua secretária (que, ao tempo que está parada, até ganhou bicho), levantou o auscultador, e colocou-o ao ouvido.

“TOU!”

Ouviu uns ruídos.

“TOU!?”

Mais ruídos. Começou a estranhar. Será que o aparelho estava avariado? A cozinheira estava a observá-lo com atenção. Ganhou coragem e disse, ainda a medo:

“Ah… o senhor tem… tem… tem o telefone ao contrário.”

O OME rodou o telefone.

“EU SABIA! E TU JÁ IAS PREPARAR O ALMOÇO!”

“Mas são nove e meia…”

“MAS JÁ!”

Ela ausentou-se a correr, já quase a chorar, ao que ele, satisfeito com a sua eficácia, se encostou na cadeira, como os OMES que usam secretárias costumam sentar-se, cheios de estilo. Até experimentou baixar um pouco a voz.

“Tou sim?”

O ZÉ TOLAS já estava farto de esperar. Já para aí há 20 minutos que metia moedas no telefone da sua empresa e a carteira não tinha muitas mais.

“TOU, OME!”, disse muito rápido, “OLHA, eu não te ligava se não fosse mesmo muito importante, mas isto é uma questão de vida ou de morte… e cheira muito, muito, muito mal.”

“OI, mas não sou eu!”

“Eu sei que não és tu. Tu cheiras mal, mas cheiras mal na Arreganha-a-nova. OLHA: na empresa em que eu trabalho, a Ping Digitália, estão a planear coisas muito perigosas. Os chineses estão a congeminar, e são muito suspeitos.”

“Mas tipo, EU NÃO QUERO SABER DOS CHINESES!”

O ZÉ TOLAS, que já esperava isso, rematou:

“Eles apanharam o QUIM PESCAS no alto-mar e prenderam-no!”

“OI? O QUÊ?”

“Sim, isso mesmo, e temo que lhe vão fazer mal. Não sei o que é que eles querem, nem o que estão a pensar fazer, mas vamos fazer o seguinte: tu mete-te já no carro e guia para a CIDADE CAPITAL. Acelera. A tua viagem ainda vai demorar umas horitas. Entretanto, eu vou tentar libertar o QUIM. Vou fazer os possíveis, mas não me parece que consiga passar a segurança toda. Não sei. Tenho que ver isso. O mais certo é lixar-me também. Tu vem direito à Ping Digitália. Quando chegares vai à recepção e pede para que o empregado ZÉ TOLAS venha ter contigo. Se eu não aparecer, chama a bófia e diz que há tráfego de órgãos nos níveis inferiores do complexo de prédios aqui da empresa… isso vai fazer a polícia revistar o local… e os chineses não vão conseguir explicar porque é que o QUIM PESCAS está enclausurado.”

“MAS ESPERA, porque é que não esperas que eu chegue e dizemos tudo à polícia?”

“Porque pode já ser tarde. Não quero nem imaginar o que podem fazer ao QUIM se esperarmos muito. A regra deles, pelo que vi, é: nada de testemunhas. Anda lá. Salta para o carro. Está a acabar-se o meu tempo. Até logo!”

A chamada caiu.

“ATÉ LOGO! BOA SORTE!”, bradou o OME DO MONTE, a ver se o outro ainda o podia ouvir, caso falasse um pouco mais alto. Bateu com o auscultador no telefone, ergueu-se, cheio de energia, e gritou, para a casa toda ouvir:

“Ó ALBERTINA, TRAZ-ME AS BALAS DA CAÇADEIRA!”

(…)

E não percam o próximo OMIPISÓDIO, dia 26 de Fevereiro, que nós também não!

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