CUIDADO! Este blog é só pra OMES ja crescidos! Tirando apenas estas excepções:

o ZÉ TOLAS, que é baixinho,
o OME DO MONTE, que ainda não chegou lá,
o QUIM PESCAS, que já nasceu grande,
o TONE BOSTAS, que em vez de lá chegar deu uma cabeçada,
e o LA BOUSSE, que nos mandou a todos à la merde.







11/03/2008

AS OMAVENTURAS

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UM BARULHO DE SUCÇÃO interrompeu o silêncio. O ar, infestado de gás soporífero, movimenta-se. Aquele escritório saiu da névoa em que adormecera. Várias luzes se ligaram. As do tecto piscaram uma, duas vezes, e inundaram o resto daquele imenso escritório quadrado com claridade. O computador regressou do estado de hibernação, e o monitor acordou num ambiente de trabalho de idioma chinês. Subiram os estores que cobriam a janela, e abriu-se esta, tudo automaticamente e com ligeiros zumbidos de maquinaria dissimulada. Ao centro da divisão, mesmo no chão, estavam dois indivíduos, de pés e mãos atados, presos um ao outro. Acordou o primeiro. Debateu-se com as mãos, debateu-se com os pés, mas os nós estavam, para já, suficientemente bem atados.

“Oi, que é isto? Onde… como… Ah… chinos do inferno…”

Reparou no indivíduo que tinha ao seu lado.

“ZÉ, ZÉ, acorda!”

ZÉ TOLAS estava relutante em despertar. Mas com os abanões do outro, abriu os olhos e respirou fundo.

“Onde estamos?”

“Onde estamos, perguntas tu?”, repetiu o QUIM PESCAS, “Estamos no mesmo sítio onde estávamos antes de desmaiarmos.”

TOLAS olhou com mais pormenor à sua volta. Piscou os olhos até estes se focarem à luz. O gás já quase não se via, consequência do ar condicionado que circulava. O ambiente estava mais respirável. Ainda assim tossiu.

“Tens razão… o que é que se passou?”

QUIM fez outro esforço para soltar as mãos dos nós que as prendiam, torcendo o pulso de várias formas a ver se desfazia algum nó. Com algum esforço, e mais algum tempo, talvez fosse possível aligeirar os nós que tinha nos tornozelos… e soltar os pés para conseguir andar.

“Sei lá o que se passou!”, disse ele, “Só me lembro de entrarmos no escritório que nos disseram ser o do Ping Li… coiso, e de a porta se fechar. E de não a conseguirmos abrir. E de começarmos a sentir um odor intenso.”

“Adormeceram-nos com gás”, concluiu TOLAS, “E tudo por tua culpa!”

“MINHA?”, bradou o QUIM.

“SIM, IMBECIL!”, ripostou o outro, “SE NÃO FOSSE POR TUA CAUSA, JÁ NOS TÍNHAMOS IDO EMBORA! Mas quiseste-te meter na boca do lobo! Pronto, toma lá! Estamos na boca do lobo! Estás contente? Gostas da boca do lobo?

“Eu queria era falar com o lobo…”

“É, sim, olha, ele quer falar com o lobo. E querias dizer-lhe o quê? Querias cravar-lhe o número de série do cabo de um candeeiro na nuca, era isso que querias? Pensavas que o lobo não estava cercado de outros lobos com tecnologia de ponta?”

“Não sabia que haviam lobos chineses. Mas pronto, tá bem, ZÉ, eu já percebi, já percebi, agora cala-te.”

“Tipo, o OME DO MONTE vem a caminho… mas, porque perdemos os sentidos, perdi também a noção do tempo, e não sei se ele já havia de ter chegado ou não—”

Mas, neste preciso momento, a porta de entrada abriu-se. Junto a esta, e a um mostrador, na parede, com os misteriosos dígitos a vermelho “06”, um outro sujeito entrou em cena, para espanto mudo dos dois OMES. Ou melhor, do TOLAS, uma vez que o QUIM ainda não conhecia, pelo menos de vista, o homem que o prendeu.

Ping… Li… Pong.

“Boas tardes, estimados hóspedes”, disse ele, com uma calma fenomenal, “creio que já fomos apresentados, funcionário TOLAS. É um prazer conhecê-lo, senhor pescador PESCAS… o meu nome é Ping Li Pong e estou aqui para vos matar, se não for muito incómodo, é claro.”

“Não, de forma alguma”, disse TOLAS, tentando aparentar uma calma semelhante à do seu patrão. Ou melhor, ex-patrão… mas o temperamento de Ping Li Pong não costumava ser assim. Era um sujeito muito eléctrico, muito temperamental e furioso. Não soava nada dele esta atitude pacifista. Devia estar mesmo, mas mesmo seguro de si.

“Vocês foram muito ingénuos se alguma vez julgaram poder fugir daqui. Nem você, senhor TOLAS, por ter ouvido uma conversa confidencial, nem você, senhor PESCAS, por ter, mesmo sem querer, metido o seu salgado nariz nos meus assuntos secretos. Estão os dois com uma execução marcada para hoje, dentro de alguns minutos, por isso eu sugiro que se divirtam, para aproveitar o tempo que vos resta.”

“OI, ERA EU TAR LIVRE QUE TE FAZIA DIVERTIR, CHINO DE…”

“Está CALADO!”, gritou ZÉ, e depois virou-se para Pong, “Qual é o seu objectivo? O que é que pretende, afinal de contas? O que é que nós dois, dois simples e pouco instruídos indivíduos, estamos a prejudicar?”

“Vocês?”, riu-se Pong, “Vocês não estão a prejudicar nada. A partir do momento em que eu vos tratar da saúde não prejudicam nada.”

Tocou o telefone na sua secretária. Pong atendeu.

“Sim, sim, Al Abalah, está tudo bem. Eu já me encarrego deles pessoalmente. É só uma pequenina conversa antes disso.”

ZÉ TOLAS sorriu para si mesmo. É tão típico, o vilão monologar antes de eliminar os inimigos. Isso era geralmente um sinal de que os bons se iam safar. Mas como?

“Meus venerados amigos”, começou Ping Li, “o mundo em que tiveram a infelicidade de se meter é tão mais vasto quanto o consigam avistar. Aos vossos olhos, a China quer invadir o mundo economicamente. Através da supremacia do mercado, não é? Mas se a China o quisesse já o tinha feito, digo-vos eu. Por que razão é que andamos a plantar lojas chinesas ao nosso custo em todo o lado? Qual é o nosso objectivo, pensais vós? O que é que nós andávamos a fazer nos mares em que o QUIM PESCAS foi pescado? Qual é o verdadeiro significado por detrás dos Jogos Olímpicos de Pequim? O que é que a Ping Digitália veio realmente fazer a Portugal?”

QUIM contorceu-se, com raiva. E aproveitou para desatar mais um pouco o nó dos tornozelos.

“A China tem planos que o mundo desconhece. A China tem objectivos que estão para além da vossa compreensão ocidental. Não vou gastar o meu tempo a explicar-vos o quê, como é óbvio… vou antes acabar convosco. Gosto tanto de preparar estes discursos com os condenados. Um dia poderei dizê-los ao mundo, e sem os censurar. Aos chineses, aos portugueses que cairão sob o nosso império, aos americanos, aos ingleses, e a todo o resto do mundo. Meus amigos, o resto do discurso não é para hoje, e não é para vocês tampouco.”

Ping Li Pong dirigiu-se para a secretária, onde, avistou ZÉ TOLAS, estava uma PISTOLA.

“OLHA A ARMA!”, avisou ZÉ, e QUIM aproveitou, deu um esticão para se levantar, levando ZÉ TOLAS atrás. Os dois, ainda amarrados e sobre o equilíbrio um do outro, tentaram derrubar Pong, mas este esquivou-se e sentou-se no cadeirão da sua secretária, ignorando a arma de fogo que tinha sobre a secretária.

E, para surpresa dos dois OMES, que, desequilibrados, caíram ao chão, apertou um cinto de segurança, que fez clique.

QUIM, de nariz no chão, pôde ver o pé direito do chinês a carregar num botão dissimulado no solo, debaixo da secretária. Um botão de entre dois. Logo após a ele ter feito isto, toda a divisão pareceu tremer, e a gravidade a pesar cada vez mais. Um barulho ensurdecedor de maquinaria encheu-lhes os ouvidos. Ping Li Pong ria-se enquanto QUIM PESCAS e ZÉ TOLAS eram esmagados contra o chão por aquela força invisível, cada vez mais forte.

Junto à porta de entrada estava um mostrador, que indicava uma série de números em ascensão, “15”, depois “16”, “17”, e por aí adiante. Foi quando ZÉ TOLAS os avistou que percebeu, finalmente, que todo aquele escritório era um elevador gigante, criado, certamente, para fugir a visitas incómodas, podendo-se deslocar para qualquer andar e através do simples clique de um botão. Neste momento estavam a subir a uma velocidade vertiginosa que os colava ao chão.

Ping Li Pong pressionou o botão outra vez e o movimento cessou de repente, puxando uma data de objectos para cima, num voo curto, incluindo o TOLAS e PESCAS, que foram projectados até um metro de altura e se estatelaram outra vez no chão. Tudo voltou ao silêncio.

“Isto é um elevador!”, sussurrou ZÉ para o QUIM.

“Eu percebi. Quantos andares tem este prédio?”, interrogou QUIM, em surdina, enquanto Ping Li Pong tirava o cinto de segurança e se erguia da cadeira.

“Trinta e nove, porquê?”

Mas no momento em que ZÉ TOLAS disse isto percebeu perfeitamente o que é que QUIM estava a pensar fazer. Numa fracção de segundo, o pescador ergueu-se, mesmo de pés e mãos atados, e mesmo com o ZÉ preso às suas costas. Projectou-se para cima da secretária e levou tudo o que ainda lá estava à frente, exceptuando o computador e o telefone, que estavam fixos devido à natureza da sala.

Deu uma cabeçada ao Ping Li Pong e uma joelhada num dos botões que controlavam o elevador. Acertou no que faz descer. Nesse momento, tudo começou a levitar, incluindo Pong, os objectos começaram a subir em pleno ar, excepto os dois OMES que estavam debaixo da secretária, que estava presa também, e ZÉ TOLAS, mesmo com os pulsos amarrados, conseguiu agarrar a arma de Pong com os dedos.

O mostrador estava quase a chegar ao “01” quando QUIM carregou no botão gémeo, o que faz subir. E, mais uma vez, foram colados ao chão, agora com mais violência ainda. Arrastaram-se até ao meio da sala, onde já tinham estado, e QUIM, vendo a arma na mão de TOLAS, berrou, no meio daquele chinfrim:

“DISPÁRA, TOLAS! DISPÁRA!”

O mostrador já ia pelos “18”. E TOLAS estava colado ao chão, devido à força que o empurrava para baixo.

“DISPÁRA!”

ZÉ apontou o melhor que pôde a arma para Ping Li Pong, que se contorcia lá ao fundo. Semicerrou os olhos, mesmo quando a divisão estava a chegar ao trigésimo andar, e premiu o gatilho.

Da ponta da pistola saiu uma chama. O mostrador chegou aos “39”, a divisão toda parou violentamente com um estrondo, todos os objectos soltos foram projectados para o tecto e QUIM PESCAS, mais ZÉ TOLAS, amarrados, atravessaram o tecto para o infinito.

“É UM ISQUEIROOOOOOO…”

(…)

Não percam o próximo OMIPISÓDIO, dia 29 de Março!

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