CUIDADO! Este blog é só pra OMES ja crescidos! Tirando apenas estas excepções:

o ZÉ TOLAS, que é baixinho,
o OME DO MONTE, que ainda não chegou lá,
o QUIM PESCAS, que já nasceu grande,
o TONE BOSTAS, que em vez de lá chegar deu uma cabeçada,
e o LA BOUSSE, que nos mandou a todos à la merde.







14/10/2007

ASSOBIEM ENQUANTO TRABALHAM

Uma das profissões menos rentáveis cá em Portugal mas que ao mesmo tempo mais me fascina é aquela tão conhecida como… a dos trolhas.

Operários da construção civil? Não. Trolhas. Trolhas e pronto. Toda a sua filosofia é um caso fora deste mundo, digno de uma série de Ficheiros Secretos, de uma dúzia de documentários com o Eduardo Rego a narrar e, até, de dois ou três reality-shows da TVI ou 30 novelas de 2000 episódios cada. Se fosse a SIC a pegar no projecto, fujam, porque ainda morreríamos afogados em publicidade relativa à trolhice com uma protagonista de saias abastada de peito e de limitação infantil. Seria a Floritrolha. Algo que ficaria para a história. Ou a Trolhatitas. Mas pronto, já me encontro a divagar, vou mas é retomar o tema para o qual me inclinei.

Há muitos géneros de trabalhadores. Uns assustam-me com a força, outros com a precisão, outros com a técnica, outros até com tudo. Uns assustam com a quantidade de lata que têm para dizer a soma dos trabalhos que fizeram durante o dia.

Mas nenhuns me assustam de tal forma como este espécime… digno de uma CONVERSA D’OME
.

Ei-lo,

O TROLHA QUE VI NA OBRA.

Era um fascínio de pessoa. Baixo, nos seus quarenta, de rosto chupado, gasto e seco, físico não muito desenvolvido, moreno -- como quem diz, moreno à trolha, que vai até meio do antebraço; um chapéu de segurança descaído para a nuca, para poder coçar a testa, barba por fazer, a pouca que tem. Tinha uma camisa bastante aberta, para o ar circular, botas já sem cor, tal a sujidade, um colete reflector… E UMA TAREFA A CUMPRIR.

Ele estava entre dois montes de terra. Tinha de passar terra de um para o outro. Tinha, também, e para ajudar, uma PÁ na mão. Todos os ingredientes estavam reunidos para ele passar terra do monte A para o monte B.

Ou assim parecia.

Ele assobiava, não sei se com arte, mas com vontade. Assobiava, e debruçava-se na pega da pá. Olhava à sua volta, concentrado no seu assobio. Podia até parar de assobiar por uns segundos mas não se esquecia da melodia, e lá voltava a entoar o som. E DE VEZ EM QUANDO, eu até me alarmava, ele EMPUNHAVA A PÁ e… raspava no chão. Nem no A nem no B. No meio. Raspava com a pá no chão.

Começava a aperceber-me de que estas técnicas modernas de construção são muito avançadas para um gajo como eu.

E então passou um superior dele. Um qualquer. Um engenheiro, sei lá, um empreiteiro, o dono da obra, não faço ideia. E o trolha do assobio CESSOU O ASSOBIO, LEVANTOU A PÁ COM DESTREZA, ENFIOU A PÁ NO MONTE A E ARREMESSAVA A TERRA E O ENTULHO COM VONTADE, PROJECTANDO-O PELOS ARES ATÉ AO MONTE B.

Que feito. Que espectáculo. E isto aconteceu umas três vezes seguidas, até o dito trolha olhar, do canto do olho, para trás, e notar que o outro já se encontrava longe. O seu campo de visão estava absorto noutros motivos, e eis que o assobio voltou.

DEBRUÇOU-SE de novo na PÁ e concentrou-se de novo no ASSOBIO. Que prodígio. Que técnica. Que maneira de trabalhar, que exemplo, que paixão pelo trabalho. Aqui está um homem que sua cada cêntimo do seu ordenado. Meus amigos, não sei se é de OME trabalhar o menos possível ou não, eu cá espero que não, mas digamos, e concordemos no ponto ao qual eu quero chegar… OME QUE É OME vive a vida com harmonia.