CUIDADO! Este blog é só pra OMES ja crescidos! Tirando apenas estas excepções:

o ZÉ TOLAS, que é baixinho,
o OME DO MONTE, que ainda não chegou lá,
o QUIM PESCAS, que já nasceu grande,
o TONE BOSTAS, que em vez de lá chegar deu uma cabeçada,
e o LA BOUSSE, que nos mandou a todos à la merde.







26/02/2008

AS OMAVENTURAS

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QUIM ouviu passos. Sabia que ia ser agora, finalmente, de uma vez por todas, que lhe iam tratar da saúde. Mas ele não se ia entregar assim tão facilmente. Ia dar luta, não fosse ele o QUIM PESCAS, o gajo que, um dia, lá para os idos anos noventa, ameaçou o patrão do seu barco de pesca de o congelar juntamente com o peixe. O patrão nunca mais disse nada, e consta que emigrou.

QUIM já estava bastante mais acordado, mais desperto. Pegou logo numa das pernas da cama metálica daquele cubículo, que se entretivera a desmontar, e colocou-se atrás da porta. Os passos aproximaram-se. A porta abriu-se, e QUIM desferiu o golpe…

Apontara à cabeça, só que o indivíduo que entrou não era tão alto e corpulento como os chineses, e a perna da cama fez logo uma racha na porta. QUIM ainda ia tentar uma segunda investida, mas reparou que quem ali estava era o ZÉ TOLAS, ora que esta!

“Mas tu estás maluco?”, suprimiu o ZÉ, num murmúrio pleno de nervosismo, “Então um tipo vem-te libertar e tu, à primeira oportunidade, tentas matá-lo?”

“OI, desculpa, ZÉ! Desculpa, ZÉ! Obrigado, ZÉ!”, começou o QUIM, sem conseguir abafar a voz, “Eu é que pensava que os chinos me iam chinar, ZÉ! E assim eu chinava uns quantos antes de me chinarem a mim!”

“Está bem, está bem, desde que fales baixinho”, soprou o outro, “Tenho aqui um fato de trabalhador que consegui fanar ali a um balneário, veste-o. Assim sempre passamos um pouco mais despercebidos. Isto enquanto não soar o alarme…”

QUIM PESCAS descalçou as suas botas e começou a enfiar o fato do “Júlio Dinis, Funcionário de Limpeza”, por cima das roupas cheias de sal e tudo. Ficava mesmo à justa, ao contrário do que o ZÉ TOLAS vestia. Riu-se, do canto da boca.

“Oi, agora chamas-te João Vítor?”

Ouviu-se passos no corredor, e desta vez, não eram do ZÉ TOLAS. Este sobressaltou-se.

“Chiu! Cala-te! Anda!”

QUIM só teve tempo de pegar nas botas e de se precipitar descalço para os corredores. Ainda com o fato desabotoado, foi a rasto, puxado pelo ZÉ, por um prédio que nunca vira na vida. Quando se meteram no elevador, que ZÉ teve o cuidado de ver se tinha alguém antes de puxar o QUIM, este pasmou com a quantidade de botões referentes a andares que lá tinha.

“Eish! Quer dizer, estávamos no andar menos sete… e agora estamos a subir?”

“Anda lá, veste-te!”, aconselhou o ZÉ, enquanto esperavam no elevador, “E despacha-te… eu creio que estamos a ter sorte a mais… nem entendo como é que ainda não nos toparam.”

“Afinal o que é que se está a passar aqui?”

“Se queres que te diga, não sei bem. Mas eu depois explico-te. Entretanto posso-te dizer que os chineses não são flor que se cheire. Temos de ter muito cuidado. Quando chegarmos ao primeiro andar saímos pelas traseiras. Pode ser que consigamos sair por entre o lixo… eu trabalhei lá há uns anos, espero que funcione da mesma maneira…”

“Porque é que não saímos pela frente, simplesmente? Porque é que não nos vamos embora pela porta da frente?”

“Antes de mais, aperta as botas.”

QUIM abaixou-se, ao trabalho, e ZÉ prosseguiu.

“Esta empresa tem um alarme silencioso. Todos os gajos da segurança recebem esse sinal, assim como uma mensagem, a dizer como nós somos, de onde fugimos, etc., e na entrada, eu tenho a certeza absoluta que, se ainda não estão gajos preparados para nos apanhar, dentro de minutos estarão. E aí é que vamos desta para melhor.”

“Então porque é que me disfarcei?”

“Os gajos da limpeza não o sabem. E no departamento deles, que é no primeiro andar, temos uma hipótese.”

QUIM estava com uma cara de fúria.

“Porque é que eles nos querem apanhar? Qual é a panca deles? QUER DIZER, ANDA UM GAJO NA SUA VIDA, NO SEU DIA-A-DIA, E DE REPENTE APARECEM UNS CHINOS QUE LHE QUEREM CORTAR A GOELA?”

“CALA-TE!”, vociferou ZÉ TOLAS, e, quando reparou no seu tom de voz, conteve-se, “Cala-te, cala-te, cala-te, mas tu queres morrer aqui!?”

“OI, MAS ISTO NÃO SE FAZ, QUEM É O GAJO QUE MANDA AQUI?”, exaltou-se o QUIM, “QUEM É O TÓJÓ QUE NOS MANDOU MATAR? MAS EU VOU-LHE ÀS FUÇAS!”

ZÉ TOLAS carregou no botão STOP do elevador. Tinha de explicar umas coisas aqui ao QUIM antes de saírem. Era o que mais faltava, a besta do pescador que foi libertar deitar tudo a perder.

“Porque é que paraste o elevador?”, inquiriu logo QUIM, mas ZÉ ignorou-o propositadamente.

“Isto é tudo muito simples. Vou-te fazer três perguntas curtas. Tens medo de morrer?”

QUIM pensou.

“Não.”

“Tens família?”

QUIM pensou.

“Nem por isso.”

“Não tens receio algum?”

QUIM pensou.

“Não me parece.”

ZÉ levou a mão à cara.

“… Raios.”

QUIM carregou no STOP outra vez. O elevador logo se abriu. Desta vez foi o QUIM que puxou o ZÉ dali para fora. Este último ainda tentava chamar o primeiro à razão.

“Ouve lá”, ainda com uma réstia de esperança de o fazer pensar duas vezes, “tu não sabes com quem é que te estás a meter, por amor de Deus não vás à campeão para o meio dos carniceiros, eles vão-se divertir contigo e depois chinam-te…”

“JÁ VAMOS VER!”

ZÉ teve uma ideia. Puxou o QUIM para um recanto escuro onde não passava ninguém e persuadiu-o a ouvi-lo.

“OLHA, olha, QUIM, não preferes sair do prédio, ir comigo para o outro lado da rua, escondermo-nos, esperarmos que o OME DO MONTE apareça, e depois damos cabo do responsável?”

“AI O OME DO MONTE VEM?”

ZÉ engoliu em seco.

“…. Vem. Está a vir. Deve estar na auto-estrada.”

“ENTÃO BORA LÁ! Vamos abri-lo como a um coelho!”

“Mas é que nem tens hipótese nenhuma! Tu nem sabes onde é que ele está! Nem eu te vou dizer o nome dele!”

“AI É?”, disse QUIM, com um olhar bastante decidido, ao contrário do de ZÉ.

“… É.”

QUIM, com um respirar pelo nariz muito ruidoso, fez-lhe sinal para observar com atenção, ao que ZÉ percebeu que estavam perdidos, e que a única maneira de se safarem dali com vida se estava a esvair por entre os dedos.

Horror. QUIM aproximou-se de um segurança chinês, e tocou-lhe no ombro.

“Ó sôr guarda. Pode-me dizer quem é que manda nesta merda toda?”

O guarda olhou-o com surpresa.

“Ping Li Pong.”

“Muito bem, e onde posso encontrar esse Ping… Ping Pong?”

“Do segundo andar para cima, vire à direita, e procure a porta que parece um elevador. Carregue aí no botão e espere que ele o atenda.”

ZÉ TOLAS, escondido no seu canto, fazia os possíveis por não ter um ataque de nervos.

“Muito obrigado”, agradeceu o QUIM PESCAS.

(…)

E não percam a próxima OMAVENTURA, dia 11 de Março, que NÓS TAMBÉM NÃO!

12/02/2008

AS OMAVENTURAS

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AQUELE CÃO IRRITANTE, o PULGAS, veio a correr desde a lavoura da Adelina, e não fazia tenção de o largar – ladrava e saltava, sedento de atenção do OME do mundo com menos paciência para o aturar.

“VAI ROER OSSOS, PULGAS!”, berrou o OME DO MONTE, com aquele carinho habitual com que ele trata os animais, com o encanto digno de um domador de feras, dia após dia, “VAI CAVAR BURACOS PARA O QUINTAL DO VIZINHO! AGORA TOU OCUPADO!”

E, de facto, estava. Tinha um telefonema. Já para aí desde o Natal que o OME DO MONTE não recebia um telefonema em sua casa. É curioso: todas as outras casas do RESTO DO MUNDO costumam receber telefonemas com frequência, excepto a sua. Talvez por viver sozinho, talvez por não ter tantos familiares quanto isso – talvez, até, por ele se dizer um gajo calmo – calmo e também um pouco anti-social, visto que –

Tem uma espingarda na mala e uma pistola no porta-luvas, ninguém sabe bem para quê.

E não é para a caça, isso a população de Arreganha-a-nova o pode garantir. Ainda se diz um tipo “calmo”… de vez em quando vai jogar o seu real jogo de cartas com os outros ditos “calmos” da região, e não há sexta-feira à noite que não acabe numa “calma” cena de pancadaria.

Assim como nenhum jogo de futebol que dê sem ser na televisão por cabo é bom presságio para os cafés da terra de Arreganha. Os donos dos inúmeros estabelecimentos (dois e meio, visto que um deles é clandestino e, em teoria, “não existe”), ao que consta, ganharam a fama de usarem colete à prova de bala, e isto ninguém sabe porquê, uma vez que todos os indivíduos que se conhecem são “calmos”. Às vezes estão tão “calmos” que os colocam num caixão.

E o OME DO MONTE é, de entre os calmos, o mais calminho de todos. De grande envergadura, mãos grandes e cabedal de meter medo, de cabelo preto que não vê água desde as últimas chuvas – isto se chover – um BIGODE que deixa crescer desde que atingiu a maioridade (ou seja, desde que nasceu), e umas BOTARRAS que pisam todo e qualquer tipo de solo.

Onde é que ia ele? Ah, ia para casa, atender o telefonema do ZÉ TOLAS. Raios partam o ZÉ TOLAS, pensou. Aos anos que já não via aquele OME. É ele, o QUIM PESCAS e o LA BOUSSE. Este último emigrou, e já ninguém ouve falar dele desde o dia em que levou umas cinco unidades de tabaco (e tanta cerveja que dava para ser declarada um lago) para o estrangeiro. Está caro, em França, está caro, disse ele, encheu o depósito e pôs-se na alheta.

Mas aqui, nos seus tranquilos e “calmos” Trás-os-Montes, o OME DO MONTE governava-se bem, sem problemas, quer dizer, sem problemas ainda vivos. Agora mesmo já se encontrava quase a chegar a casa. Apareceu OUTRA VEZ o chato do Pulgas. O que é que ele queria?

“VAI LADRAR PARA A ESQUINA, PULGUENTO!”

A cozinheira estava já à espera dele na entrada.

“Ó senhor, apresse-se, que o senhor ZÉ TOLAS daqui a bocado fica sem moedas para manter a ligação!”

O OME DO MONTE é de poucas palavras, e sempre que pode, mostra o seu lado afável e compreensivo.

“TÁ BEM! ALGUÉM FALOU PARA TI?”

Foi à sua secretária (que, ao tempo que está parada, até ganhou bicho), levantou o auscultador, e colocou-o ao ouvido.

“TOU!”

Ouviu uns ruídos.

“TOU!?”

Mais ruídos. Começou a estranhar. Será que o aparelho estava avariado? A cozinheira estava a observá-lo com atenção. Ganhou coragem e disse, ainda a medo:

“Ah… o senhor tem… tem… tem o telefone ao contrário.”

O OME rodou o telefone.

“EU SABIA! E TU JÁ IAS PREPARAR O ALMOÇO!”

“Mas são nove e meia…”

“MAS JÁ!”

Ela ausentou-se a correr, já quase a chorar, ao que ele, satisfeito com a sua eficácia, se encostou na cadeira, como os OMES que usam secretárias costumam sentar-se, cheios de estilo. Até experimentou baixar um pouco a voz.

“Tou sim?”

O ZÉ TOLAS já estava farto de esperar. Já para aí há 20 minutos que metia moedas no telefone da sua empresa e a carteira não tinha muitas mais.

“TOU, OME!”, disse muito rápido, “OLHA, eu não te ligava se não fosse mesmo muito importante, mas isto é uma questão de vida ou de morte… e cheira muito, muito, muito mal.”

“OI, mas não sou eu!”

“Eu sei que não és tu. Tu cheiras mal, mas cheiras mal na Arreganha-a-nova. OLHA: na empresa em que eu trabalho, a Ping Digitália, estão a planear coisas muito perigosas. Os chineses estão a congeminar, e são muito suspeitos.”

“Mas tipo, EU NÃO QUERO SABER DOS CHINESES!”

O ZÉ TOLAS, que já esperava isso, rematou:

“Eles apanharam o QUIM PESCAS no alto-mar e prenderam-no!”

“OI? O QUÊ?”

“Sim, isso mesmo, e temo que lhe vão fazer mal. Não sei o que é que eles querem, nem o que estão a pensar fazer, mas vamos fazer o seguinte: tu mete-te já no carro e guia para a CIDADE CAPITAL. Acelera. A tua viagem ainda vai demorar umas horitas. Entretanto, eu vou tentar libertar o QUIM. Vou fazer os possíveis, mas não me parece que consiga passar a segurança toda. Não sei. Tenho que ver isso. O mais certo é lixar-me também. Tu vem direito à Ping Digitália. Quando chegares vai à recepção e pede para que o empregado ZÉ TOLAS venha ter contigo. Se eu não aparecer, chama a bófia e diz que há tráfego de órgãos nos níveis inferiores do complexo de prédios aqui da empresa… isso vai fazer a polícia revistar o local… e os chineses não vão conseguir explicar porque é que o QUIM PESCAS está enclausurado.”

“MAS ESPERA, porque é que não esperas que eu chegue e dizemos tudo à polícia?”

“Porque pode já ser tarde. Não quero nem imaginar o que podem fazer ao QUIM se esperarmos muito. A regra deles, pelo que vi, é: nada de testemunhas. Anda lá. Salta para o carro. Está a acabar-se o meu tempo. Até logo!”

A chamada caiu.

“ATÉ LOGO! BOA SORTE!”, bradou o OME DO MONTE, a ver se o outro ainda o podia ouvir, caso falasse um pouco mais alto. Bateu com o auscultador no telefone, ergueu-se, cheio de energia, e gritou, para a casa toda ouvir:

“Ó ALBERTINA, TRAZ-ME AS BALAS DA CAÇADEIRA!”

(…)

E não percam o próximo OMIPISÓDIO, dia 26 de Fevereiro, que nós também não!